2006/10/19

Carta de Afonso de Albuquerque

Trecho de uma carta de Afonso de Albuquerque enviada a Dom Manuel I:

"(...) determinei mandar um navio a Cananor para avisar Vossa Alteza pelas náos de carga, as quais mandei que viessem tôdas por Goa, porque não perdiam nada no seu caminho, e davam favor ao feito de Goa, e amostravam à Índia poder eu vir sôbre Goa com mais náos, se quisera, e por fazer esta mostra à Índia, pela esperança que tem da vinda dos Rumes não se alvoraçarem, mas serem certificados do poder e grandez de vossas armadas e como podemos ajuntar vinte, trinta e quarenta náos, se cumprir, e quis fazer esta mostra, e não sei se o capitães cumprirão meus mandados, ou se fundados em dar boa razão de si farão outro caminho."

Neste texto surpreendeu-me a autonomia que Afonso de Albuquerque demonstra em relação ao Rei, e a forma como aceita que os capitães não cumpram os seus "mandados" dando "boa razão de si". Surpreendeu-me vê-lo escrito desta forma natural e insconsciente.

Na época não existiam as formas de comunicação que existem hoje, o espaço entre cada ordem dada era muito grande, D.Manuel não poderia mandar D. Afonso de Albuquerque conquistar uma determinada cidade na semana seguinte. Como primeira razão há que considerar os meses que uma carta levaria a viajar de Lisboa à Índia, outra razão tem que ver com o fundamento da tomada de decisão com base em dados deslocados no tempo, se em Janeiro D. Afonso estaria em Ormuz em Junho estaria em Malaca e não poderia atacar Adem na semana seguinte.

Havia, então, que delegar e dar autonomia. Escolher e confiar nas pessoas e na sua preparação para o desempenho das funções, essa confiança estaria baseada num educação na corte ou no seio das ordens militares, nomedamente na Ordem de Cristo.

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